"Quando os primeiros europeus começaram a desbravar o Grande Rio Amazonas, eles haviam acabado de chegar de uma longa viagem de pelo menos três meses pelo Atlântico. Desnutridos, carentes de todo tipo de conforto, doentes e com um nível alcoólico um tanto alto, era um grande alívio chegar em algum lugar, qualquer que fosse, pois todos temiam as terríveis bestas do mar, como a Lula Gigante Kraken, as Serpentes Marinhas, As terríveis Baleias com seus dentes gigantescos que comiam barcos e marinheiros (??) e sobretudo as SEREIAS.
Sim, pois essas belíssimas e sensuais criaturas, meio mulher, meio peixe, eram bastante tentadoras, e atraiam os desavisados com seu canto mágico e os levavam para suas tocas, onde submetiam os homens a todo tipo de maldade até que, enfim, os matasse para comer sua carne!
Por isso deve ter sido bastante aterrorizador quando esses valentes lobos do mar se depararam com os doces silvos vindos do rio durante a noite amazônica. Esses sons, muito suaves e melódicos, meio desconexos, eram repetidos a toda hora durante a noite e também durante o dia, mas no silêncio noturno ficavam mais nítidos e apavorantes!
Os nativos, entretanto, sabiam que esse canto não se tratava de suas deusas dos rios, mas sim do som da respiração de um representante de uma antiga e seleta ordem de peixes muito primitivos, conhecido como PIRÁ M’BÓIA, ou “Peixe Cobra-grande”, dentre muitos e muitos outros nomes populares.
Algumas décadas depois a ciência os batizaria de Lepidosiren paradoxa, nome um tanto adequado dado a suas características tão especiais, cuja tradução literal das palavras gregas seria algo como “Ágil Sereia Absurda”!
FÓSSEIS VIVOS!!
Os peixes pulmonados, ou Dipnóicos (Ordem Dipnoi), surgiram no período permiano, a cerca de 350 milhões de anos atrás, e representam um grande marco na história evolutiva de nosso planeta, a enfim saída dos vertebrados dos ambientes aquáticos.
As terras secas, Já dominadas por plantas e uma miríade de invertebrados, era um banquete à disposição de quem pudesse se aproveitar, livre de predadores.
Para alcançar essa conquista, espécies de peixes passaram a utilizar de suas bexigas natatórias, órgãos responsáveis pela flutuação na coluna de água, como órgão acessório para respiração de ar atmosférico. A estrutura interna se modificou tanto que parecia agora uma esponja de finos vasos sanguíneos. Para não perder de todo sua função original, a bexiga natatória de dividiu em duas, para conter mais ar, tanto para respirar, quanto para flutuar. Estavam criados os primeiros PULMÕES VERDADEIROS do reino animal, e já duplos, como na grande maioria das espécies atuais.
A estrutura óssea e muscular da cabeça também mudou! Ao invés de existirem músculos exclusivos para a movimentação do opérculo, coordenado com o abrir e fechar de boca para forçar a passagem de água pelas brânquias, os ossos se enrijeceram e os músculos desenvolveram-se para ter também a capacidade de sugar ar por conta própria, além de engoli-lo, ou seja, RESPIRAR!
Já reparou que em situações de grande Stress, muitas pessoas apresentam um movimento muscular involuntário e repetitivo entre a bochecha e o pescoço? Esta pessoa está “boqueando ofegante” como um peixe em água mal oxigenda, utilizando os vestígios dos músculos responsáveis pelo movimento rítmico dos opérculos, que ainda existem, mesmo que subdesenvolvidos, em todos animais vertebrados terrestres.
Como ainda não possuíam autonomia da água, os dipnóicos desenvolveram sua própria solução para captar o ar mesmo sob a água da maneira mais discreta possível. Estruturas musculares flexíveis e que se movimentam conforme for conveniente, expondo apenas um pequeno bordo fora da superfície da água. A esta estrutura complexa demos o nome de LÁBIOS.
Suas nadadeiras representam o primeiro passo para o desenvolvimento de membros terrestres. São das poucas espécies que possuem nadadeiras lobadas, dotadas de ossos e musculatura próprios. Há semelhança da estrutura da nadadeira de um peixe dipinóico ceratodontideo, a nadadeira de um cetáceo, a asa de uma ave e um braço humano.
A maioria das espécies da outrora dominante ordem Dipnoi está extinta, deles restam apenas ricos registros fósseis que nos mostram um pouco da grandiosidade dessas espécies, mas restam duas famílias, que tem passado por todas as adversidades no decorrer dos milênios mais ou menos ilesas.
AS ESPÉCIES
Apenas seis espécies de dipnóicos existem hoje em dia, todas no hemisfério sul, divididas em duas famílias:
Família Ceratodidae:
São peixes mais primitivos, apresentam pulmões, mas apenas um é funcional, o outro é pouco desenvolvido. Têm câmeras branquiais e brânquias grandes e ainda funcionais, que agem como órgãos adicionais de respiração. Como todo dipinóico, seu principal órgão de respiração já é seu pulmão.
O único representante desta família ainda vivo é o Neoceratodus forsteri, nativo da Austrália.
Sua situação é crítica, estão em sério risco de extinção. O governo Australiano possui diversos programas de preservação deste grande peixe, inclusive criatórios preservacionistas, que vendem parte de sua produção para arrecadar fundos para a continuidade de seus trabalhos, inclusive variedades albinas.
São peixes raros e bastante caros, o Neoceratodus forsteri albino é o peixe ornamental mais caro existente, atingindo cifras de milhares de dólares.
Atingem até 1,70 metros e são muito robustos, parecem grandes e gordas “ovelhas de escamas”! Diferente de seus primos, apesar de possuírem adaptação menor ao ambiente terrestre, têm o hábito de descansarem sobre rochas à beira dos rios e lagos que habitam, mergulhando ao menor ruído. Filhotes passeiam pela relva úmida depois das chuvas, pulando como sapos. Adultos costumam andar razoáveis distâncias em terra de modo similar ao movimento das focas, se arrastando com suas fortes nadadeiras lobadas.
Sua adaptação é suficiente para mantê-los vivos durante o período de secas da Austrália, em que permanecem em estado semi-letárgico em grandes poças de lama onde antes eram grandes lagoas.
Em aquários são bastante agressivos, atacam até mesmo peixes tão grandes quanto eles próprios. Toda essa agressividade é compensada pelo afeto que têm por seus donos, costumam ser muito interativos e brincalhões! Chegam a comer nas mãos do aquarista! Apesar de não possuírem dentes (como todo dipinóico, possuem grandes placas ósseas achatas), não é muito seguro incentivar esse hábito, muitas vezes irresistível!
Essas placas achatadas servem para quebrar as partes duras de camarões, caranguejos e caramujos, além de ossos de pequenos mamíferos e outros peixes. Possuem uma variedade de presas, são grandes oportunistas.
Família Lepidosirenidae
Possuem pulmões muito bem desenvolvidos, tanto que podem percorrer grandes distancias em terra seca e conseguem sobreviver aos períodos de estiagem enterrando-se na lama a cerca de 50cm a 1,5m de profundidade, formando uma espécie de casulo, cujas paredes são revestidas por seu muco , evitando a desidratação completa. Permanecem assim muitos meses em estado letárgico, aproveitando-se das reservas de gordura acumuladas durante a época das chuvas.
Após as primeiras chuvas, os peixes despertam e saem do casulo. Reidratam sua pele ressecada e “espreguiçam”, alongando a forte musculatura, inerte por tanto tempo.
Em algumas horas já estão completamente recuperados e famintos, saem a busca de alimento e de parceiros, é nessa época, tão logo seus habitats enchem, que buscam reproduzir.
A espécie sul-americana, Lepidosiren paradoxa, é a mais pacífica. Possui coloração preto-azulada ou cinza-azulada. Como seus primos africanos, possui nadadeiras peitorais e pélvicas convertidas em longos filamentos musculares. Pode viver com peixes menores, desde que não caibam na sua boca. Já mantive um exemplar desta espécie com acarás discos sem nenhum problema!
Tem a particularidade de, na natureza, alimentarem-se quase que exclusivamente de caramujos, porém, em aquário, aceitam lascas de peixe, camarão, até ração.
Atingem pelo menos 1,25m, entretanto, já pude ver um exemplar morto, utilizado como isca, que tinha pelo menos 1,80m, mas esses dados não são registrados cientificamente.
São freqüentemente confundidas com o Muçum (Symbranchus sp.), com o qual não tem nenhum parentesco, já que ambas espécies, apesar de não terem importância comercial, são utilizadas como iscas vivas e ambas possuem habitats e temperamento bastante semelhante. Muçuns são marrom ou bege, Pirambóias são azuis ou pretas, muçuns não possuem nadadeiras filamentosas e possuem câmaras branquiais grandes, que formam um papo, muito semelhante aos das moréias de água marinha.
Costumam definir uma toca e ficar nos arredores dela. Pode ser um tronco, um vaso ou um cano de PVC, mas não são peixes parados! Movimentam-se bastante, até por que têm que respirar em intervalos relativamente curtos (a cada 15, 20 minutos).
Realmente soltam um suave assobio durante a respiração, que tende a der mais audível quanto maior for o peixe. Exemplares pequenos, ainda jovens, não vão se acanhar de respirar perto de seus donos após alguns meses de convivência, e nessas horas pode-se ouvir seu suave canto!
Não se preocupe, mesmo grandes, pirambóias não são barulhentas, seu silvo é delicado e tem algo de misterioso. Só se houve chegando perto do aquário.
Já os representantes africanos do gênero Protopterus são muito bonitos, possuem coloração mais exuberante, mas são muito mais agressivos que sua dócil prima sul-americana.
Existem 04 espécies, todas raramente encontradas à venda:
Protopterus annectens é a espécie mais comumente encontrada à venda (se é que alguma espécie é comumente encontrada…). Existem em quase todo o continente africano nas mais diversas condições de habitats, inclusive há uma população que habita o Lago Malawi. É um peixe bonito, vistoso e muito ativo, atinge cerca de um metro de ponta a ponta. A subespécie que habita as regiões mais ao sul, P. annectens brieni, é um pouco menor, atinge cerca de 85cm. Existem exemplares albinos vez por outra disponíveis à venda, e atingem altos preços.
Protopterus dolloi é ou Spoted Lungfish outra espécie bastante difundida, possui uma coloração malhada, marrom escura, quase castanha, muito bonita, alguns são cinzentos, mas tons sempre puxados para o marrom. São peixes mais esguios que os demais, possuem filamentos longos e atingem tamanhos um pouco mais modestos se for desconsiderar o longo filamento que tem na ponta da cauda! Atingem cerca de 80cm de corpo, mas o filamento da cauda pode beirar outros 30cm, dependendo do indivíduo, somando 1,20m de comprimento total
Protopterus amphibius é o menor lungfish registrado. Atinge cerca de 50cm. É um peixe delicado, que tem como principal característica jamais perder por completo as brânquias externas que todos os representantes desta família apresentam ao nascer, por isso são chamados de Lungfish guilled, ou peixe pulmonado de brânquias.
Protopterus aethiopicus, a meu ver, é a espécie mais bonita dentre todas! Peixe grande, atinge 1,40m fácil, na natureza chega aos 2 metros, possui uma coloração mais clara, com manchas irregulares, mas encaixadas entre si, como o padrão da pelagem de uma girafa! Este peixe é bastante difícil de se encontrar à venda, sua distribuição na natureza é bastante restrita, limitando-se apenas região do Lago Vitória, na divisa entre o Kênia, Uganda, Tansânia e Somália. Apesar da proximidade geográfica com diversas populações de P. annectens, estes peixes não possuem contato natural este “primo”.
Existe uma subespécie endêmica da bacia do Rio Congo, P. aethiopicus mesmaekeri, que é muito menor, atinge apenas 90cm e possui o corpo bastante volumoso, alto, dando-lhe a aparência bem mais atarracada em relação a seus “primos”.
A situação da espécie é bastante crítica, Estudos de pesquisadores franceses atestam uma queda de até 85% da população desde 1986, quando foi iniciado o programa de pesquisas. Não se sabe ao certo quantos ainda restam. Por se tratar de um peixe grande, é muito utilizado como alimento pelas populações locais.
EM CASA
Se você tiver um aquário grande, bem grande, pelo menos 300 litros (para um P. annectens, que é uma espécie pequena), 500 seria o ideal, não terá problemas em manter esses peixes. São muito pouco exigentes quanto a qualidade da água. Em seu habitat, até vivem em água com concentrações absurdas de amônia, PH beirando 9,0 ou até 5,0, vivem no meio da lama, em água salobra, em água com temperaturas bastante alta…. vivem até sem água!
Mas o ideal sempre é reproduzir as condições mais confortáveis aos peixes, então vamos nos basear em condições mais freqüentes em seus respectivos habitats:
Neoceratodus forsteri vive em águas de PH alcalino, às vezes com alguma concentração baixa de sal, e temperaturas mais amenas, cerca de 25ºC.
Lepidosirem paradoxa vive em águas ácidas e ligeiramente ácidas, como este peixe existe em todo Brasil, do Oiapoque ao Chuí, não são exigentes quanto a temperatura, provavelmente, o exemplar que você adquirir deve ter vindo de uma região próxima, portanto, ficará confortável com a temperatura ambiente normal. Só não gostam de temperaturas baixas demais, 18ºC ou menos.
Protopterus annectens é o de distribuição mais ampla, existe desde o delta do Nilo até os rios do norte da África do Sul. Vive nas mais diversas condições de PH e temperatura. Como não há como saber de onde o peixe foi coletado, mantenha-o… FELIZ! Observe, teste! Sinta seu peixe, se aumentar um pouquino o PH o faz sentir melhor, faça isso! A princípio, vivem em quaisquer condições.
Protopterus dolloi é originário da bacia do Rio Congo, na África Central, prefere, portanto, PH ligeiramente ácido e temperaturas em torno de 27ºC
Protopterus amphibius vive no leste africano, desde a Somália, passando pelo Kênia, Tanzânia, Moçambique até a África do Sul, em águas geralmente alcalinas. A população que vive no Rio Zambezi, em Moçambique, é acostumada à água salobra.
Por fim, Protopterus aethiopicus, o mais exigente! Por apresentar distribuição mais restrita ao lago Vitória e adjascências, preferem água alcalina, dura e temperada, por volta dos 25ºC.
Muita gente mantém peixes pulmonados em aquários insípidos, já que são peixes grandes, fortes e um tanto desajeitados, mas são ENGUIAS! Possuem o corpo alongado, adoram tocas, se enterrar, se enroscar nas coisas. Sentem-se à vontade e são mais ativos em aquários com decoração mais densa, desde que as peças desta decoração estejam firmemente apoiadas, pois realmente são desastrados!
Adoram plantas e ficam nadando no meio delas graciosamente quando jovens! Fariam o mesmo quando adultos, porém… haja planta para um peixe deste tamanho! O problema, no caso das plantas, além dos movimentos abruptos deles, é o irritante hábito de se enterrarem!
Forneça uma toca para seu peixe e tudo estará resolvido! ADORAM objetos como canos, é uma coisa de outro mundo como gostam! Nenhuma outra toca os deixa mais feliz! Entram e saem de canos como se fosse a brincadeira mais divertida! Nadam através deles, se arrastam por eles puxando-se pelas nadadeiras peitorais, entram de ré… é diversão garantida por horas!
Não são exigentes quanto ao cascalho, mas preferem areia fina. Possuem pele fina em seu ventre.
Companhia é um problema!
Lepidosiren paradoxa é um peixe calmo e doce! Como mencionei, já a mantive com acarás disco, há quem os mantém com grandes pacus ou pequenos tetras! As demais espécies, no entanto, são bastante agressivas. Já vi Protopterus adultos convivendo com Polypterus, Oscares e Cascudos, exemplar de quase 80cm e vive desde muito jovem com esses mesmos peixes. O segredo da coexistência entre peixes jumbos parece ser mesmo a convivência desde a juventude. Acostumam-se com as características e acabam por respeitar uns aos outros.
Mas peixes jumbo são animais bastante “inteligentes” e de forte personalidade, sobretudo os pulmonados. A experiência em aquários comunitários requer observação e seleção de espécies minuciosa. Possível, certamente é!
Pulam com relativa facilidade, melhor manter o aquário sempre muito bem tampado, com um material resistente, como acrílico, e com pesos ou mesmo presilhas plásticas coladas nas bordas do aquário segurando o vidro. Lembre-se que são animais muito fortes!
ALIMENTAÇÃO
Não costumam ser exigentes na alimentação. Adoram lascas de peixes de água doce, peixes vivos, minhocas (sobretudo) e aceitam ração com certa facilidade!
Se quiser, complemente sua alimentação com grandes caramujos e pitus, que são suas mais apreciadas iguarias!
Peixes pulmonados jovens são muito glutões, comem muito e crescem barbaridades nos seus primeiros meses de vida, por isso é importante uma preocupação extra com a quantidade de alimento nesta fase, garantindo a saúde do peixe por toda sua longa vida, que pode chegar aos 30 anos!
Adultos são mais seletivos, podem desistir de comer determinados alimentos ou preferir outros. Não deixe seu peixe mal acostumado, desde pequeno, o ensine e incentive-o a comer ração!
A SAUDE DOS PEIXES PULMONADOS, A SAÚDE DOS DONOS DE PEIXES PULMONADOS!
Dificilmente adoecem, são peixes muito resistentes. Dificilmente apresentam-se desnutridos, pois são realmente muito glutões! O que acontece com freqüência é se machucarem! Muito mais que outros peixes de porte similar.
Geralmente esses ferimentos não requerem maiores cuidados, é bom evitar objetos pontiagudos ou afiados no aquário em todo caso, ainda assim, conseguem se machucar de alguma forma, se por acaso formar fungo ou algo estranho na ferida, é bom pegar o peixe e desinfetar com mercúrio cromo.
É bem nessa hora que podem morder! Mesmo sem dentes, a mordida deles dói muito e costuma ferir! Eles travam a mandíbula ao morder. Se não soltarem em alguns segundos, é necessário pressionar COM MUITA DELICADEZA as laterais da mandíbula para forçar a soltura.
Limpe e trate bem do ferimento, pode infeccionar! Se houver alguma piora nas condições, melhor procurar um médico.
REPRODUÇÃO
Não há casos registrados da reprodução de peixes pulmonados em aquários, mas se tem notícia dela em lagos. Existe criação conservacionista / comercial da espécie australiana, parte da criação é exportada para manter as pesquisas e a reintrodução deste peixe na natureza, como a Ausyfish (www.ausyfish.com).
Protopterus annectens também são criados em cativeiro, mas não disponho de informações a respeito.
Peixes pulmonados ficam enormes e podem se tornar muito agressivos em ambientes pequenos, por isso da criação geralmente ser em lagos e tanques externos.
Os machos de peixes pulmonados lepidosirenídeos constroem ninhos com musgo e folhas, atraem a fêmea com uma corte elaborada, que envolve “enrroscos” e carícias, depois os machos, pais extremamente zelosos, cuidam das proles até começarem a nadar livremente, algumas vezes, as fêmeas também participam dessa tarefa.
Peixes pulmonados ceratodontídeos não fazem ninhos, apenas colocam seus ovos em depressões de cascalho, mas também cuidam da prole com muito zelo.
O grande empecilho para a criação em aquário, na verdade, além do tamanho, pois eles adquirem a maturidade sexual quando chegam perto de um metro de comprimento, é que seu estilo de vida é muito semelhante ao dos killiefishes, ou seja, os filhotes devem nascer logo no começo da estação chuvosa, que é em meados de setembro, e devem estar grandes, fortes e com reservas suficientes para enfrentar sua primeira seca em apenas seis meses!!
Então há fatores climáticos que certamente influenciam a postura. Por sorte, vivemos em condições semelhantes de clima, o que é um incentivo à tentativa.
As desovas são grandes (400, 500 ovos de cerca de 1cm de tamanho), os filhotes nascem com brânquias externas que vão sendo absorvidas gradualmente pelo organismo, e já nascem relativamente bem desenvolvidos, com cerca de 3 a 5cm.
Há apenas uma chance de reprodução por ano e ela deve ser muito bem sucedida, se algo der errado, só haverá outra chance no ano seguinte.
As crias ficam a cargo do pai por cerca de dois meses, quando começam a ter que respirar seu próprio ar e acabam se afastando. Mesmo assim, não existe canibalismo entre um pai e seus filhotes (teoricamente… particularmente acho mais recomendável separa-los depois desse período)
Há um dado fascinante nessa relação Pai e Filhos: Os machos de Lepidosiren paradoxa desenvolvem uma série de estruturas cheias de filamentos na base das nadadeiras ventrais que são “artérias cobertas de uma fina membrana”, parecidas com brânquias externas, mas possuem a função inversa: com esses orgãos especiais, ao invés de captarem o oxigênio da água, como brânquias reais fazem, os pais transferem o oxigênio que captam da atmosfera e é assimilado por seu organismo, passando parte o seu próprio oxigênio, contido em seu próprio sangue, para a água, e nesta mesma operação, absorvem gás carbônico, ajudando na oxigenação ao redor nos filhotes que ainda não possuem pulmões funcionais!! Os pais costumam se enrolar como uma rosquinha e deixar os filhotes no meio deles, onde eles mantêm um micro-ambiente muito bem oxigenado… Não é INCRÍVEL??
A espécie australiana vive em ambientes que nunca efetivamente secam, não formam um casulo de argila e fica enterrada em estado letárgico na terra esturricada como os demais dipinóicos, eles não tem pulmões tão funcionais e não precisam desenvolve-los… Apesar de respirar ser obrigatório, quase tão obrigatório quanto é para seus primos, não possuem resistência em seus organismos, sobretudo na pele, para enfrentar o ar atmosférico mesmo por dias e dias como seus primos. Podem ser mantidos em aquários desde o nascimento até o fim de suas vidas,
Já os lepidosirenídeos, possuem grandes e funcionais pulmões! Moram na água, mas precisam de tanto ar quanto golfinhos, baleias e outros mamíferos marinhos! Não é uma forma de respiração acessória, como nos demais peixes que possuem essa capacidade, é seu sistema principal de respiração, suas brânquias são muito pouco funcionais, muitas vezes atrofiadas, e o modo de pôr esse pulmão para funcionar é o mesmo dos bebes humanos: USANDO, ou seja, precisa-se simular uma seca aos filhotes, para que usem seus pulmões e não morram afogados no futuro por insuficiência respiratória!
Peixes pulmonados jovens podem ser criados em bandejas com apenas poucos centímetros de coluna de água com substrato macio, imagino desta forma incentivamos utilizar cada vez mais seus pulmões!
O dimorfismo sexual é muito sutil e só observável em exemplares adultos, algumas vezes, apenas durante a época de reprodução (característica sazonal).
Machos possuem as nadadeiras filamentosas pélvicas mais largas que as das fêmeas. Começam achatadas e terminam em filamentos, nas fêmeas são só filamentos. Machos possuem o corpo mais fino que as fêmeas, inclusive a proporção das nadadeiras dorsal+caudal+anal (que são fundidas) em relação ao corpo é maior que as das fêmeas.
Vale a pena arriscar! Quem sabe a primeira reprodução de peixes pulmonados em aquários aconteça por aqui?"
Autor: Alexandre Avari